Dos santos juninos, o menos popular é Paulo. São bem lembrados Santo Antônio, São João Batista e São Pedro. Em algumas regiões do país, “São João” tornou-se sinônimo de “Festa junina”. Daí dizem: “Vamos ter São João este ano?” Na verdade, a pergunta seria: “Vamos ter Festa junina dedicada a São João Batista neste ano?” E São Paulo, o que sabemos sobre a vida deste homem que se tornou Apóstolo dos pagãos? 2m1e1o
O próprio Paulo nos apresenta sua biografia: “circuncidado ao oitavo dia, da raça de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu filho de hebreus; quanto à Lei, fariseu; quanto ao zelo, perseguidor da Igreja; quanto à justiça que há na Lei, irrepreensível” (Fil 3,5-6). De fato, ele conseguiu progredir muito no judaísmo (cf. Gl 1,14). Seu nome original era Saulo (At 9, 4; 26,14; 22,7).
Mosaico de São Paulo que compõe a arquitetura da Catedral da Sé – Arquidiocese de São Paulo
Saulo era de Tarso, na Cilícia (At 21,39). Ele se declarou, em várias agens, como sendo cidadão romano de nascença (At 22,25.29). Certamente, esse título tenha sido herdado do pai, que o teria conseguido por ter prestado relevantes serviços ao Império romano. Possuidor de vasta cultura grega, Saulo foi educado por Gamaliel, na cidade de Jerusalém, para onde havia se mudado e onde foi criado (cf. At 22,3).
O livro dos Atos dos Apóstolos informa que, quando Estêvão foi apedrejado, suas vestes foram depositadas aos pés de Saulo de Tarso (At 7,58). Após esse episódio da morte de Estêvão, Saulo assumiu uma posição importante na perseguição aos cristãos. Ele recebeu autoridade oficial para liderar as perseguições. Com a autorização dos chefes dos sacerdotes, ele dava seu voto a favor da morte dos cristãos (At 26,10).
O próprio Paulo afirma que “respirava ameaça e morte contra os discípulos do Senhor” (At 9,1). Além de deflagrar a perseguição em Jerusalém, ele ainda solicitou cartas ao sumo sacerdote para as sinagogas em Damasco. Seu objetivo era levar preso para Jerusalém qualquer um que fosse seguidor de Cristo, tanto homem como mulher (Atos 9,2). Saulo perseguia e assolava a Igreja de Deus (Gl 1,13). Fazia isso, acreditando que estava servindo a Deus e preservando a pureza da Lei.
Zeloso perseguidor, Saulo de Tarso caminhava para prender os cristãos que se encontravam em Damasco. Era por volta do meio dia. Uma luz vinda do céu, mais brilhante do que o sol, circundou Saulo e seus companheiros. Todos viram a luz e caíram por terra, mas somente Saulo ouviu uma voz em língua hebraica: “Saulo, Saulo, por que me persegues?”. Na versão do capítulo 26 dos Atos, há uma explicitação: “É duro para ti recalcitrar contra o aguilhão”. Essa era uma expressão entre os gregos para indicar uma resistência inútil, assim como o boi que se voltava contra o ferrão e, com isso, feria-se mais ainda (At 9,1-19; 22,5-16; 26,9-18; Gl 1,12-17).
A experiência profunda que Saulo fez no caminho de Damasco mudou os rumos de sua vida. Ele ou da cegueira à plena visão, das trevas à luz verdadeira. Nunca mais ele foi o mesmo. De perseguidor, ele ou a ser perseguido por causa do nome de Jesus Cristo e de seu Evangelho. É assim que ele descreve sua experiência de conversão: “o que era para mim lucro, tive-o como perda, por amor de Cristo… tudo considero perda, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor. Por ele, perdi tudo e tudo tenho como esterco…” (Fil 3,7-8).
Após sua conversão, Paulo foi à Arábia (no sul de Damasco), depois voltou a Damasco. Em seguida, foi a Jerusalém, onde permaneceu por 15 dias na companhia de Pedro, oportunidade em que esteve também com Tiago (filho de Alfeu, ou Tiago Menor) (cf. Gal 1,15-17). Com o risco de perseguição, ele foi levado a Tarso, onde permaneceu por algum tempo (cf. At 9,29-20). Mais tarde, Barnabé foi buscá-lo para ajudá-lo em sua missão junto à Igreja de Antioquia (cf. At 11,25).
Encontramos Paulo novamente em Jerusalém para estar uma vez mais com os apóstolos, por ocasião do Concílio de Jerusalém (At 15,1-29). Foi nessas circunstâncias que Pedro e os outros notáveis, Tiago e João, estenderam a mão a Paulo em sinal de comunhão, dando-lhe como única recomendação cuidar dos pobres (cf. Gl 2,1-10). Mais tarde, novamente Paulo se encontrou com Pedro em Antioquia da Síria (cf. Gl 2,11). Este foi o último encontro narrado entre Paulo e um dos apóstolos.
De Antioquia, Paulo saiu pelo mundo de sua época evangelizando, fundando comunidades cristãs e instituindo líderes para continuar a missão da Igreja. Assim, ele percorreu vários lugares da Ásia Menor, da Grécia e, por fim, chegou a Roma. Com sua missão, o Apóstolo dos pagãos anunciou Jesus Cristo até os confins do mundo. Por fim, derramou seu sangue, sendo degolado pelo poder constituído da época. A experiência daquela luz tão profunda que invadiu seu olhar e sua vida, no caminho de Damasco, fez de Paulo insigne testemunha de Jesus Cristo.
A tradição nos assegura que São Paulo foi decapitado fora da cidade de Roma, “ad Aquas Salvias”, onde se ergueu a igreja das Três Fontes. Assim, ele pôde dizer: “Combati o bom combate, terminei minha carreira, guardei a fé. Desde já me está reservada a coroa da justiça, que me dará o Senhor, justo Juiz, naquele Dia, e não somente a mim, mas a todos os que tiverem esperado com amor sua Aparição” (2 Tim 4,7-8).
Padre Geraldo Maia